Se
aproximando as eleições (e meu dever a cumprir como mesário),
lembro que, ainda que as opções do executivo não sejam das
melhores, eleger pessoas qualificadas para os quadros legislativos se
torna uma missão tão importante quanto. Algo que é bastante comum
mas também gera diversas dúvidas são os testes de espectro
político.
Em
um deles, meu resultado foi algo entre o comunitarismo e
a direita. Sabemos que o debate direita-esquerda é
complexo, o que torna necessário conhecer mais detalhes de um modo
de pensar política para se saber o real posicionamento.
Antes
de falar do comunitarismo, vou falar brevemente deste debate (me
posicionando logo adiante, é claro, pois é praticamente impossível
ser imparcial na política!). Os termos surgiram na Revolução
Francesa. Após a queda da monarquia absolutista de Luis XVI, a
França, em um complexo contexto político de uma década, viu
surgir dois lados na disputa pelo poder: os girondinos e os
jacobinos. Os girondinos, sentados à direita da assembleia do
período da convenção, tinham mais apreço pela monarquia, mas não
da forma absolutista. Eram abolicionistas, liberalistas e
federalistas. Já os jacobinos, que se sentavam a esquerda, eram mais
favoráveis a revolução. De forma simples e aplicada a época, quem
se posicionava à direita era monarquista, e à esquerda, republicano. A proclamação da República no Brasil, como exemplo
prático, se deu pela influência positivista derivada dos jacobinos,
ou seja, um pensamento da esquerda contra a direita estabelecida (e
também interpretada por muitos como um golpe republicano). Não
posso dizer se o termo "extrema-esquerda" tenha sido
cunhado pela radicalização dos jacobinos, mas as ações destes
ficaram conhecidas durante o período do Terror. Alguns, de uma
forma mais elucidativa e simplória, classificam a direita pela "ordem"
e a esquerda pelo "movimento".
Pelos
dois lados defenderem amplas políticas que causavam discordâncias
reais, surgiram outros meios para a classificação política, e uma
delas é o de espectro político. Apesar de, durante o século XX
terem surgido vários tipos de análises diferenciadas, o mais comum
hoje são os de dois eixos: eixo X, esquerda-direita, eixo Y,
conservadorismo-liberalismo. Por meio desse espectro, é possível
perceber alguns elementos que pareciam invisíveis: conservadores de
esquerda e liberais de direita. Hoje isso parece mais evidente, já
que houve descontentamentos de experiências nos dois lados consagrados.
Por
que sou de direita? É importante definir este lado,
primeiramente. A direita política é onde nós, cristãos,
encontramos a realidade do homem. Não é o acaso que nos fez termos
digitais diferentes e possuirmos a liberdade como princípio
norteador. Se fôssemos deterministas (ou pior, naturalistas, que por conta disso não encontram fundamento algum no teísmo)
teríamos que aceitar regras igualitárias a TODOS, mesmo que dentre
TODOS houvessem preguiçosos ou trapaceiros. Como sabemos que não
somos iguais, logo, não podemos tratar todos iguais. A direita, ou a
ideia de direita, me diz que todos devem ter oportunidades iguais, na
mesma medida que tenham deveres iguais. Nunca um sobrepondo o outro, e, principalmente, sem o Governo sobrepor o cidadão.
Além disso, o conceito de propriedade privada e hierarquia, que são
desprezadas pela esquerda, são o mínimo para que vivamos com
justiça.
O
período em que a extrema-esquerda reinou na França e provocou
milhares de mortes, fazendo com que o ceticismo caísse em descrédito e
o cristianismo retornasse com força. Entretanto, já era tarde e o
movimento totalitário de Napoleão suprimiria quaisquer espectros
razoáveis. Além disso, a questão do nacionalismo está mais
associada à direita, e o Estado com a esquerda. Ambos em excesso são
ruins: o nacionalismo, quando assume a superioridade do povo sobre os
demais, e o Estado, quando assume a própria superioridade sobre o
povo (e aqui faço um adendo: esse exemplo não trata do nazismo x
comunismo, pois para alguns especialistas, o nacional-socialismo tem
caráter apenas "nacional", ainda que Hitler tenha inflado
as camadas pobres alemãs em discursos revolucionários e, estando no
poder, estabeleceu apenas um partido, centralizando o poder em
Berlim).
Por
que sou comunitarista? O termo é uma resposta ao
liberalismo irrestrito; ainda que tenha excelentes resultados no campo
econômico, se mostra desastroso no campo moral, dando margem a
políticas que antes eram associadas apenas a esquerda (aborto,
liberação das drogas, multiculturalismo), além de se afastar qualquer herança cristã - que, para os liberais significa autoritarismo - e se utilizar apenas dos dogmas iluministas. O comunitarista, por
conta disso, e ainda que soe opressor - e também, explícito apenas nas entrelinhas, pode dizer em alto e bom som que a
cultura cristã é a MELHOR que já existiu na história e por meio dela, e somente por ela, existe a democracia. Logo, o
liberalismo pode ser uma resposta ao enriquecimento econômico, mas
o comunitarismo, para a própria existência. Por conta disso, por vezes, é confundido ou associado à democracia cristã.
A
partir daqui, podemos inserir o socialismo na conversa. Um termo
conhecido e que pode ser associado ao comunitarismo é "reacionário".
Usado pejorativamente pela esquerda (liberais ou conservadores), ela
significa uma devoção ao cristianismo, as tradições e ao rei. É
claro, onde há um rei. Podemos citar um exemplo prático: o russo
Dostoiévski, tachado de reacionário, era contrário às ideias
socialistas e anarquistas oriundas da Europa e que viraram moda na
Russia de seu tempo. Se não bastasse isso, ele escreveu a obra "Os
demônios", que retrata exatamente as atrocidades que ocorreriam
anos mais tarde, com o comunismo. Questionado sobre a repercussão do
livro, Dostoiévski deu de ombros. Não deve ter sido atoa que, mais
tarde, seu livro mais famoso, Os Irmãos Karamazov, tenha
sido proibido na União Soviética por Stalin:
"...'É
demasiado reacionária', dizem, 'ninguém acreditará nisso, le
diable n'existe point. Publique isso anonimamente.' Mas de que
vale uma declaração anônima? Brinquei com os redatores: 'Ser
reacionário', dizia-lhes, 'é crer em Deus em nossa época, mas eu,
eu sou o diabo'. 'Decerto, toda gente crê no diabo, contudo é
impossível, poderia isso prejudicar o nosso programa. Talvez... sob
uma forma humorística...' Mas então, pensei, não seria
espirituoso. E minha declaração não apareceu. Isto ficou-me
pesando no coração. Os melhores sentimentos, tais como a gratidão,
estão formalmente proibidos para mim, por causa de minha posição
social." (O diabo, dialogando com o
personagem ateu Ivan, de Os
Irmãos Karamazov.)
Esse
resultado de espectro me deixou próximo do pensamento de Ronald
Reagan. Como sabemos, Reagan era de origem pobre, defendendo
inicialmente os democratas, o partido da esquerda americana, mudando
posteriormente para os republicanos, a direita. Em sua posse
presidencial, em 1980, disse a célebre frase: "Na crise atual,
o governo não é a solução dos problemas, ele é o problema".
Defendendo a diminuição de impostos e a oração na escola, não
foi atoa que sofreu uma tentativa de assassinato em 1981. Ao lado de
Margaret Thatcher, ajudou a acabar com a União Soviética, o pior
sistema nacional já implementado e responsável pela morte de
milhões de pessoas.
Reagan, de fato, é um exemplo de político a quem devemos dar créditos. Talvez (no futuro), poderemos dizer isso de Trump. E aqui no Brasil? Não pretendo indicar um nome, mas pelo que descrevi, deve ser alguém que possa ser um pouco de cada aspecto que faça nosso país crescer sem desaparecer, democrático mas justo, economicamente saudável mas cristão. Não necessitamos de um espectro específico se ele seguir esses passos.
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