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A politização do cristão no Brasil – I


Portanto, se o Filho os libertar, vocês de fato serão livres” (João 8:36). Este versículo do novo testamento bíblico é talvez o mais esclarecedor quando falamos na liberdade que o cristianismo nos proporciona e isto é possível constatar simplesmente analisando o contexto mundial. A liberdade de manifestação da fé é um pressuposto político comum em países de matriz cristã. Uma discussão muito forte sobre o tema atualmente é o envolvimento cristão no combate desta falta de liberdade que pode ocorrer no futuro, devido a outras religiões ou sistemas políticos e suas implicações. Entretanto, dez capítulos mais tarde, em João 18:36, Jesus diz: “O meu reino não é deste mundo”. Apesar de o contexto ser outro, muitos cristãos têm se valido desta citação como forma da Igreja se manter afastada do Estado, algo que cresceu ainda mais depois da Reforma. Qual seria a medida correta, então, da politização cristã?

Analisando as taxas de crescimento do público declarado evangélico, no Brasil, em 2020, segundo o IBGE, deverá representar cerca de 80 milhões de pessoas, mais que 35% da população prevista para este ano. Os números deixam diversos segmentos otimistas, como o comercial direcionado e inclusive os líderes das principais denominações religiosas. Ao passo que, diferente do que se imagina, este número expressivo da população é bastante aproveitado no campo político, de certa forma, pelos deputados declarados evangélicos. Para ser mais exato, eles representam 87 dos 513 deputados eleitos em 2014, segundo pesquisa do DIAP. Esse número leva em conta os que se declaram evangélicos e que, por consequência, angariaram votos por isso.

A questão é: o cristão brasileiro está mais politizado? Ou, como ocorre em outros seguimentos, está votando apenas para não ter que se preocupar com as questões políticas?

Para se analisar a importância destes dados, é preciso se ater a questão histórica. Robinson Cavalcanti, autor de Cristianismo e política (Editora Ultimato, 2002), elaborou uma ligação entre o princípio político bíblico até a nossa forma atual sociedade, de modo a comparar as leis que se aplicavam àquele tempo, sua relação com seus contemporâneos e como chegamos onde jazemos. Para o autor, o cristão (no caso, o protestante) deve deixar de ser um alienado (que desconhece ou ignoram os processos) e ser um engajado (um conscientizado, formador de opinião).

Este engajamento, entretanto, parece estar restrito atualmente ao voto direcionado. Quando notamos que a bancada evangélica cresce sem qualidade, é possível concluir que o resumo dessa participação popular se dá apenas durante o ato de votação e não na cobrança e debate, como deveria ser. A igreja deve discutir política? Dostoiévski nos dá uma pista no romance Os Irmãos Karamázov, afirmando que o reino de Jesus não é deste mundo, mas a igreja sim. Seu papel, além de eclesiástico, também deve ser o de cobrar justiça, equilíbrio social e liberdade.

Não é falacioso, então, dizer que os cristãos decidirão as eleições presidenciais de 2018 no Brasil.

Há, no momento, um movimento conservador mundial, notado na eleição do republicano Trump nos EUA, do referendo positivo ao Brexit no Reino Unido, além das eleições mais disputadas e com maior polarização no continente europeu em muitos anos. Essas notícias deveriam estar estabelecidas em debates cristãos, tanto quanto apologética. Não se pode esquecer o pior exemplo moderno de nulidade cristã frente a política: o nazismo. As principais instituições cristãs na Alemanha nazista estavam pensando apenas na manutenção de sua própria existência, esquecendo assim a destruição de quem quer que fosse pelo regime totalitário. É claro que há exemplos que justificam que essa participação deva ser pacífica e de conscientização, diferente de movimentos como a ELN (Exército da Libertação Nacional, da Colômbia), organização guerrilheira fundamentada na Teologia da Libertação, o IRA (Exército Republicano Irlandês), entre outros.

Como deve o Brasil se comportar?


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Sobre Paulo Matheus

Esposo da Daniele, pai da Sophia, engenheiro, gremista e cristão. Seja bem vindo ao blog, comente e contribua!

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