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Em algum lugar - I


Tudo começou quando Anthony duvidou de sua própria existência. Ele suspeitou, num dia de descanso, que suas obrigações tinham um motivo para além daquilo que necessitava. Quando percebeu que devia se decidir por algo na vida, olhou os exemplos a sua volta: ou podia se dedicar a algo e ser bem-sucedido, ou depender do acaso e buscar satisfação em sua própria destruição. Os extremos eram insuficientes. Não conseguia se encaixar nem mesmo no meio das opções. Os caminhos, de uma forma ou de outra, tinham uma finitude que tornavam a sua existência subjetiva.

Então, foi ai que decidiu viajar. Não para um lugar específico. O único planejamento era ir para onde não pudesse ver mais outra pessoa. Somente a si e tudo o que outros não tivessem interferido. Fez isso, primeiramente em pensamentos. Só que o mundo dos seus não o deixava em paz.

Logo, seu primeiro passo foi fugir das pessoas e obrigações. Ir para onde pudesse caminhar sem avisar ou pedir a permissão de alguém. Simplesmente impossível em seu mundo. Foi mesmo assim.

A primeira coisa que percebeu é que a solidão não lhe fazia bem. Todavia tentou, ao seu modo, esquecer de que ele existia para não precisar sentir isso. Percebeu que estava errado, já que um sentimento diferente anulava o outro, de modo que sentiria sempre algo ao tentar não sentir coisa alguma.

Em uma colina, respirando um ar talvez mais puro, fez uma anotação: "Se preciso de algum sentimento todo o tempo, então isso me torna um ser dependente". Sabia agora que não podia se livrar dos sentimentos. Eles faziam parte de quem ele era, ainda que não soubesse bem o resto.

Ele sorriu. Achava que estava no caminho certo para descobrir se ele era realmente o que os outros enxergavam. Ou apenas uma ideia. Mas era apenas o primeiro dia. Ele dormiu ainda sem certeza de que acordaria.







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Sobre Paulo Matheus

Esposo da Daniele, pai da Sophia, engenheiro, gremista e cristão. Seja bem vindo ao blog, comente e contribua!

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