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2013



Por acaso, visitando alguns sites do exterior, me deparei com uma série da BBC [1] sobre o Brasil, questionando principalmente sobre o porquê de as coisas estarem assim hoje, focando na situação originada nos protestos de 2013. Bem, a ideia é muito boa, apesar de ser um assunto complexo. Entretanto, a reportagem, como esperado, levanta dados e leva o espectador a crer que o governo que hoje está no poder é resultado da catástrofe gerada pelos próprios que estão no poder, como resposta aos protestos deste ano. Há um problema nesse discurso, é o que pretendo falar aqui.

Primeiramente, posso dizer bastante sobre isso pois, em 2013, a situação no Rio Grande do Sul, lugar onde os protestos começaram [2], era alarmante. Os níveis de violência estavam subindo e o sucateamento do transporte era evidente. Os problemas oriundos da proximidade da Copa do Mundo de 2014 estavam se apresentando de fato, além de gastos desnecessários indo para futilidades deste evento, diferente das obras permanentes, como BRT's e obras viárias, de uso comum, estas que ainda hoje não estão finalizadas. Atente-se para o seguinte fato: o Estado voltara a perder o controle da dívida federal, ainda que o governador e o presidente fossem do mesmo partido. Se não bastasse, no começo do ano, as empresas de ônibus de Porto Alegre, controlados pela ATP - uma associação corporativista - queriam um novo aumento no preço das passagens de ônibus. Esse aumento pode ter várias interpretações nos protestos - alguns iam as ruas pedir o tal do "passe livre"-, só que, pela motivação divulgada, ou seja, o preço do diesel, só existia um único culpado: o governo.

Neste ano, eu ainda estava fazendo faculdade e voltava todos os dias tarde da noite para casa. Ainda não era o período crítico da violência - 2014 e daí por diante -, mas já estava desejoso que acabasse logo o curso, para que não ocorresse o pior. Quando os protestos de 2013 começaram, tiveram seu apogeu em abril, em Porto Alegre. O Brasil permanecia passivo, ainda que tivessem muitos motivos para reclamar diante das incríveis falhas nos orçamentos da Copa. Apesar de noticiado na imprensa em abril que os movimentos de Porto Alegre eram de esquerda, era evidente que não, ainda que houvessem bandeiras de partidos ordinários, como o PSOL e PSTU. O brasileiro comum estava sendo afetado, e não era de seu feitio sair as ruas e protestar. Protesto, na maioria das vezes, significava bagunça e atraso num dia de trabalho promovido por um punhado de pessoas. Ou seja, mais uma vez, não faz sentido colocar todos os indignados em um só espectro. Eu estava lá e percebi isso.

Se não fosse isso, a herança que se estendeu ao país teria entendido errado [3]. Os protestos da capital gaúcha não continuaram até que o Brasil acordasse; na verdade, perderam impulso quando os mesmos partidos ordinários quiseram "guiar" as pautas. De fato, os protestos nunca foram apenas pelos "20 centavos", como ficaram conhecidos, mas estes partidos trataram de esconder o que deveria ser realmente exposto, ora, a distância do governo federal com o povo.

Outro grande problema que também é mal interpretado é a relação da cobertura da mídia. Ficou a impressão que tanto a contagem de manifestantes sempre sendo menosprezada quanto o foco na filmagem dos criminosos que participavam do protesto eram para "diminuir o poder da causa". Veja, o povo estava bem representado nas ruas em junho, e isto causou preocupação no governo federal, que tentou fazer algo inédito - tornar a corrupção um crime hediondo -, mas sem sucesso.

No documentário, a opinião de Dilma Rousseff se concentrou na crise de 2008, a qual Lula se referiu na época que chegaria aqui apenas como uma "marolinha". Não me parece que a economia tenha relação com os péssimos investimentos no país durante estes anos. Depois de um 2009 terrível, 2010 registrou o maior PIB recente, um fato que chega a ser tão maravilhoso que causa uma sombra tão gigantesca que cobre o seu real benefício ao povo. Talvez hoje, se tivéssemos tal crescimento econômico, seríamos mais criteriosos com os destinos escolhidos. A excessiva propaganda em cima da Petrobrás e o alto custo para se ter um carro também contribuiu para que a indignação fosse generalizada. Qual era o benefício de ser brasileiro afinal?

Logo, os protestos com milhões de pessoas, ainda que recriminando os bandidos que mataram um cinegrafista no final de 2013, continuaram e, em 2015, tiveram as pautas atualizadas. Se a esquerda tornou o acesso às ruas facilitados, ainda que depredassem tudo após, não conseguiram conter a indignação real. O estrago já estava feito, só que nem a esquerda e nem a grande mídia contavam que o povo já não podia mais ficar escondido.


Links:

[1] - O documentário: https://www.bbc.com/reel/playlist/what-happened-to-brazil

[2] -  http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2013/03/grupo-faz-novo-ato-contra-aumento-da-passagem-em-porto-alegre.html
- http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2013/04/protesto-por-passagem-mais-barata-reune-multidao-em-porto-alegre.html
- https://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/rs/2013-04-04/apos-protestos-aumento-da-tarifa-de-onibus-em-porto-alegre-e-suspenso.html

[3] - https://gauchazh.clicrbs.com.br/geral/noticia/2013/06/inspirados-em-porto-alegre-protestos-em-serie-contra-reajustes-na-tarifa-de-onibus-se-espalham-pelo-pais-4171189.html

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Sobre Paulo Matheus

Esposo da Daniele, pai da Sophia, engenheiro, gremista e cristão. Seja bem vindo ao blog, comente e contribua!

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