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A incoerência como um mal invisível



Somos constantemente tentados pelos nossos pecados. Por nossa própria capacidade, não conseguimos combatê-lo, tanto que somos encarregados não de o combater, mas sim fugir. Então, seria o pecado maior que todas as criações de Deus, inclusive a sua essência presente por intermédio do Espírito Santo? Esse debate é mais complexo do que pretendo ilustrar aqui. Ele apenas serve como faísca de um assunto mais próximo: a incoerência no meio cristão.

Talvez eu não precisasse recorrer aos textos sagrados para justificar a Trindade. De fato, a Bíblia está cheia de passagens, de Gênesis a Apocalipse, que nos dão certeza deste conceito, ainda que o nome, propriamente dito, não esteja ali graficamente (assim como o termo "Bíblia" não se encontra na Bíblia). Deste modo, qualquer instituição dita cristã que não compartilha desta opinião será considerada uma seita, já que este conceito é primordial para o tipo de fé que compartilhamos. Posso elencar aqui, além é claro do judaísmo e do islamismo, uma denominação que possui dificuldades de aceitar este complexo conceito – complexidade esta, realmente de difícil compreensão para nós humanos, que carrega um dos motivos mais fascinantes do temor ao Deus cristão: a igreja Testemunhas de Jeová. Apesar de, por outros tantos motivos, ela ser considerada uma seita (configuração que pode simplesmente significar sua prática de pregar um único caminho correto para a salvação em detrimento das demais interpretações), ela não acredita no conceito Trinitário. Isso significa que, ainda que pratiquem boas obras e evangelizem de acordo com o que Jesus nos disse, a falta da crença na Trindade passa a ser uma característica fundamental desta seita, influenciando no seu evidente sectarismo. É consagrado, portanto e principalmente, eu diria, a descrença na Trindade pelos Testemunhas de Jeová. Bem, o que dizer, então, quando uma peça de seu corpo tornar a discordar disso? Não obstante crer na Trindade, talvez por uma interpretação própria dos originais bíblicos, ele ainda busca divulgar isso entre seus companheiros da seita e compartilhar deste pensamento como se, de uma hora para a outra, isso fosse inerente daquela igreja, ou então criticar a "hipocrisia dos pais fundadores". Ora, eu devia ficar feliz por um lado. Ele agora não apenas crê na Trindade, mas também quer que os outros saibam. Contudo, ele está sendo, no mínimo, desonesto ao permanecer ali ou até mesmo tentar enfiar uma linha teológica a mais, de forma incongruente. Se entendesse um pouco da amplitude que envolve o cristianismo, saberia que qualquer denominação surge ou ramifica conforme uma diferença teológica que, na maioria das vezes, flui em uma direção única. Dificilmente, uma diferença teológica da Igreja Ortodoxa Tradicional, com outra diferença de uma Igreja Pentecostal Tradicional resultará exatamente na linha teológica de uma Igreja Luterana Tradicional. Terá um nome, no mínimo, curioso, mas teologicamente diferente.

Dessa ilustração, tiro algumas conclusões:

1) Não acho certo minimizar uma situação resumindo ao clássico "os incomodados que se retirem". Aliás, não há igreja perfeita, apesar de isso soar doído para certos ouvidos. Recordo oportunamente aqui o credo dos apóstolos, que trata da Igreja Universal (não especificamente a do Bispo Macedo, é claro);

2) O fato da descoberta parece deixar a pessoa inquieta com o meio em que está. Há um entendimento de que a igreja primitiva possuía mais da essência do cristianismo do que a que podemos encontrar hoje; algumas pessoas interpretam isso com relação aos costumes (como se vestir, se comportar, etc.). Mas isso não é o essencial. O que se busca, na verdade, era o que a fé provocou nas pessoas em um tempo onde não havia igrejas, como se portavam diante do endeusamento de tiranos. As primeiras igrejas tiveram problemas e muitas dúvidas, como podemos notar, por exemplo, nas cartas de Paulo. Várias dúvidas ou questionamentos, que também geraram outras vertentes, como o docetismo, a circuncisão, a prática ou não da Lei Mosaica, etc. Todas elas, entretanto, eram simplesmente respondidas pelo Evangelho de Cristo.

3) Deveríamos evitar, a todo o custo, fundar uma nova igreja. Se estamos incomodados doutrinariamente com nossa congregação, e este incômodo é com algo que julgamos imprescindível a fé, busquemos outra igreja que entenda isto desta forma. Isso não é um conselho facilitador de mobilidade entre igrejas, é claro. Essa decisão é muito importante. Quando não há alternativa e quando as orações parecerem indicar este caminho, será a decisão a ser tomada. Pior seria se o indivíduo resolvesse criar uma igreja pois não gosta muito do horário do culto. Isso daria margem para existir a Igreja Pentecostal Católica de Confissão Luterana ou então a Mesquita Judaica Trinitária dos Santos do 7º dia.

4) Apenas pensei ser esse um dos motivos principais do crescimento do fenômeno "desingrejados". Além do Caio Fábio, é claro.

Creio que haverão salvos em qualquer igreja que professem os elementos básicos do cristianismo. Não devemos atribular nosso coração com esses detalhes. Devemos ser coerentes com aquilo que escolhemos, ser maduros para tomar decisões (e de preferência, repito, não fundem novas siglas denominacionais). E perseverar, sabendo que a Deus, de onde vem a riqueza e a honra, é quem domina todas as coisas.




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Sobre Paulo Matheus

Esposo da Daniele, pai da Sophia, engenheiro, gremista e cristão. Seja bem vindo ao blog, comente e contribua!

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