Parece
óbvio que, quanto mais o desenvolvimento tecnológico avança, mais
nos tornamos solitários. Quando se torna acessível adquirir tudo o
que se gosta de uma forma prática e rápida, logo, tudo o que menos
precisamos é saber da opinião alheia. Não sou tão antigo assim,
mas lembro que há uns anos tínhamos que ouvir, sempre nas mesmas
estações de rádio e TV, os mesmos conteúdos. Hoje, de certa
forma, isso mudou para melhor no sentido em que podemos deixar de
lado uma forma pela qual recebíamos o conteúdo e dispor do
mecanismo da escolha dentre determinados meios (ainda que, por
comodismo, aceitamos tudo o que estiver pré-selecionado pelo Netflix
e pelo Spotify). O problema é o outro extremo, como bem sabemos: se
não precisamos concordar com a maioria, também não precisamos de
nada mais tão abrangente e popular.
Não
me entendam mal: isso aqui não é uma defesa para quem acha que a
indústria musical ou de entretenimento volte a mexer com os brios do
mundo novamente. Alguns podem argumentar: mas um Blockbuster não
seria algo influenciador atualmente? Não creio. Pelo que se percebe,
as pessoas esquecem que cifras bilionárias não representam, por
exemplo, o aumento da população. Devíamos, nesse caso, olhar mais
para a proporção em que se atinge o grande público.
O
fato é que o caminho contrário tem absorvido gente demais. E as
redes sociais têm potencializado isso. Somos influenciados por
pessoas próximas, e por um ou outro qualquer de gosto semelhante. O
Facebook, de uma forma proposital, busca conteúdos que se encaixem
em nosso perfil, que influência em nossas ações com relação a
escolha de conteúdos. Nossas relações, por conta disso, reduzem
drasticamente, e nos sentimos bem dentro desta bolha, onde todos
pensam semelhante, feita sob medida. Quando não o pensam, o bloqueio
é feito de forma bem simples.
Há
casos e casos. Algumas pessoas precisam ficar isoladas, por um tempo,
para que seus estudos ou práticas que exijam concentração não
sejam perturbados, de modo que seus contatos se restrinjam aos
profissionais ou acadêmicos (saudável, é claro, durante um certo
tempo de duração). Entretanto, o isolamento como via de regra nos
torna mesquinhos para com quem está a par do que está acontecendo
lá fora.
Veja
que isso é ainda mais temível do ponto de vista cristão. De que
maneira saberemos do próximo se nos mantivermos longe? Sei que não
podemos cair no debate dos “jovens de hoje” de Sócrates.
Sabemos, por exemplo, que discussões teológicas acaloradas sobre
teologia fizeram com que países se odiassem no passado, com
perseguições, assassinatos e todo o tipo de crueldade. A solução
era a de que “os incomodados se retirem”, o que de certa forma
moldou algumas regiões do mundo. Hoje, isso não faz muito sentido,
mas de certa forma o acaloramento dos debates faz com que cristãos
“convivam em desunião”.
Mais
uma vez, aviso sobre não ser aqui universalista, mas apenas
realista. A ideia do chamado ecumenismo, em grande proporção,
parece realmente temível. Todavia, cristãos, independente de sua
linha teológica, em grande parte concordam com assuntos que são
pautas hoje nos grandes debates, tais como aborto, liberação das
drogas, entre outros de teor polêmico. A desunião, provocada pelo
viés teológico, acaba por influenciar na sociedade, que é
compartilhada não só por cristãos, mas também por comunistas,
ateus e corporativistas.
Sei
que muitos detestam essa expressão, mas é necessário o meio-termo.
Entre o ascetismo, que prega a vida cristã regrada e longe do
contato com o mundo – e das decisões importantes, por
consequência, ou universalismo, onde devemos ter um contato com o
mundo de forma descontrolada, já que todos no final estarão salvos.
Devemos, portanto, ir ao mundo, sair de nossas bolhas, e pregar o
evangelho, independente da opinião de quem quer que seja, tendo
Cristo como nosso exemplo.
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