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Hostilidade em detrimento de uniões comuns


Quando falamos no conflito entre católicos e protestantes além das questões teológicas, lembramos imediatamente da Irlanda do Norte, 500 anos após a Reforma Protestante. Não há como justificar qualquer um dos lados, independente do passado. No entanto, falando do ponto de vista protestante, não estaríamos aumentando a culpa católica pela privação da liberdade ao longo dos anos? Digo isto pois, a julgar por esta justificativa, parece que deixamos de lado muito do que a igreja medieval nos legou. O fato de termos hoje hospitais e universidades são herança desta igreja, independente do conhecimento geral sobre isso. A ignorância protestante quanto a estes pontos é danosa. Provavelmente é ela quem torna ríspida as relações com outros seguimentos cristãos. Supõe-se, por exemplo, que as práticas da igreja católica no tempo de Lutero continuam em nossos dias, principalmente com relação a compra da salvação pelas indulgências. Um erro grosseiro que não nos deixa ver o mesmo acontecendo atualmente nas vertentes neopentecostais, ainda que seitas destoantes do protestantismo, mas oriundas do mesmo.

Um dos pontos que, normalmente, os protestantes discordam com relação aos católicos diz respeito a veneração da virgem Maria. Isso, todavia, não deveria impedir de dar atenção a um teólogo católico quando o ponto está em comum acordo com nossa área de estudo. Na apologética, para se ter uma ideia, citando apenas dois exemplos, temos uma noção clara deste ponto: Anselmo da Cantuária (1033-1109), anterior a Reforma Protestante, tido como criador do argumento ontológico para a existência de Deus; G. K. Chesterton (1874-1936), obviamente posterior a Reforma Protestante, autor de "Ortodoxia" e prolífico divulgador do cristianismo de uma forma geral. Não se pode, sendo assim, anular argumentações cristãs de um católico se elas são válidas.

Não cabe, então, apontar aqui erros congênitos das liturgias e sim as semelhanças. Devemos aceitar a ajuda de um professor de matemática não por ele ser luterano ou católico, e sim por sua habilidade com a ciência. Logo, é preciso deixar os extremos e buscar a compreensão de forma mútua.

Outra  vez, lembro que isso não é um culto ao universalismo, tão pouco incentivo ao ecumenismo. Mas, sim. pelo bem da sociedade livre. Chesterton, que não via distinção dessa relação com a política, criticava tanto conservadores quanto progressistas. "O negócio dos progressistas é continuar cometendo erros. O negócio dos conservadores é evitar erros de serem corrigidos"*. Isso se aplica perfeitamente aos dois entendimentos cristãos como forma de convivência.

Por fim, queria concluir desta forma: ainda que não tenhamos a mesma comunhão, seja com católicos, ortodoxos, coptas e algumas seitas cristãs, nós como protestantes deveríamos estar atentos com relação ao simples cristianismo. Ele, puramente, não deveria causar a separação categórica da sociedade, e sim tratar de tornar a sociedade justa para todos, sem exceção.





Nota:
*Texto integral em inglês: The Blunders of Our Parties; em português: Sociedade Chesterton Brasil

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Sobre Paulo Matheus

Esposo da Daniele, pai da Sophia, engenheiro, gremista e cristão. Seja bem vindo ao blog, comente e contribua!

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