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Cem Anos de Procrastinação



Por: Golias Lisboa

Eu estava apenas fazendo mais do mesmo quando me dei conta que já havia passado duas horas do horário que normalmente saio do trabalho. Fiquei assustado e, enquanto lia mais um artigo na internet sobre como acontece a fotossíntese, perdi mais meia hora.

No trajeto de volta para casa, eu não parava de ler poesias que publicavam no ônibus. Uma dizia, mais ou menos assim: “Meu coração está lotado, pegue o próximo daqui há 15 minutos”. Fiquei pensando nisso tentando achar um sentido diferente daquilo explicitamente escrito, mas não achei nenhum paralelo com algo menos lotado e que passe em menos de 30 minutos. Pensando muito nisso, acabei passando do ponto que deveria descer.

Perdido, recorri a tecnologia. Eu tinha em mãos um GPS que era umas das ferramentas mais úteis nesses casos. Eu demorei para achar, é claro, pois precisava antes checar e-mails, mensagens e dicas de como fritar um ovo num site de vídeos. Só aí foi quase uma hora.

Não precisa dizer mais nada: minha esposa e filhos já estavam dormindo quando cheguei. Sorte que, antes disso, já havia conversado por mensagens. Dei boa noite, mas a mensagem só chegou as 2 h.

No outro dia, o despertador avisava que já era hora de levantar e assistir o telejornal que normalmente informava a temperatura do dia totalmente genérica do que poderia acontecer e o comentário político totalmente isento de imparcialidade antes de me atrasar para o trabalho. Minha esposa me desejou um bom dia de forma magistral, pois o fez enquanto via um vídeo sobre como começar o dia sem as tecnologias.

No trabalho, duas horas depois do horário de entrada, a conversa girou em como faríamos para atingir as metas e isso durou quase o dia inteiro, concluindo que necessitávamos aproveitar melhor o tempo, ainda que essa conclusão só fosse possível confirmar duas semanas depois, quando o chefe voltou de férias.

Domingo, era dia de pôr a leitura em dia, e não poderia deixar de pesquisar alguma literatura sobre quantos quilômetros existem entre Júpiter e Saturno. Tínhamos combinado de acordar cedo para ir pescar, mas tinha tanto o que ver na TV que adiei três domingos. Domingo a tarde era de praxe colocar um famoso canal específico de TV e esquecer de usar o cérebro pelo resto do dia. Uma vez, quase morri em um incêndio enquanto a casa pegava fogo, pois havia uma revelação a ser feita pelo apresentador. Um dos bombeiros socorristas tentou esperar também a revelação, mas, meia hora após a casa estava prestes a sucumbir e ele me tirou de lá. Até hoje nunca perdoei tal indelicadeza daquele insensato.

São essas coisas que me fazem pensar: “Viva a vida intensamente, ela é uma só”. É um bom pensamento, eu vivo dizendo. Sempre me pego pensando nisso, principalmente quando estou contando o número de formigas que atravessam o varal.

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E você, vai aproveitar melhor o tempo e parar de ler essas besteiras? Eu, por exemplo, perdi uma hora escrevendo isso tudo. Vai fazer como eu? Vai? Sério mesmo? O que tenho para lhe dizer é o seguinte: a vida é uma só, então, por que não saber quanto tempo vivem os pinguins? Ou, então, ler a composição química de cremes vegetais? Fique orgulhoso pois, sabendo tudo isso, provavelmente, nada acontecerá.


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Sobre Paulo Matheus

Esposo da Daniele, pai da Sophia, engenheiro, gremista e cristão. Seja bem vindo ao blog, comente e contribua!

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